Por Vanessa Henriques
Há tempos uma coisa chamada internet entrou em nossas vidas, e desde então nada foi o mesmo. Na verdade foi: o jornal de todo dia continua sendo impresso, o telejornal mantém seus espectadores fieis, e o rádio, pobre rádio, suportou mais essa invenção e continuou existindo. Alguns invocaram o apocalipse, disseram que seriamos varridos pela tecnologia, que estaríamos finalmente nos aproximando dos delírios dignos dos ‘Jetsons’, mas a verdade é que ainda esperamos esse dia.
Mas a internet mudou sim nossos hábitos, não nego. Uma pessoa que acorda pela manhã e lê seu jornal impresso também acessa a internet ao meio-dia para saber se há algo de novo. Aliás, isso sim, a internet mudou: nossa percepção de atual. O jornal impresso traz (ou trazia, não sei mais) informação detalhada, textos opinativos, análises e tudo que se possa imaginar sobre um fato, mas esse mesmo fato já foi noticiado na internet há muitas horas.
Isso tudo não deveria ser ruim, mídias distintas devem conviver e conversar entre si, cada uma com sua vantagem. O problema é que os vícios da internet começaram a contaminar nossos hábitos mais, digamos, analógicos.
O que mais me chama atenção foi como a leitura foi prejudicada. Temos acesso a uma quantidade muito grande de informação — na maior parte das vezes inútil, diga-se de passagem — mas só absorvemos parte dela.
Lembro-me de conversar entusiasmadamente com uma amiga sobre um artigo que havíamos lido. Comentei, a certa altura, que concordava com o autor sobre um determinado ponto, ao que minha colega, muito séria, disse: “Continuamos falando do mesmo texto?”. Provei por a + b que sim, estava naquele parágrafo após a foto, ao que ela sorriu amarelamente, dizendo: “Ah, eu não li abaixo da foto”.
Não sou paladino da moral e dos bons costumes, quantas vezes não fiz o mesmo que minha amiga? Mas o que me incomodou foi quando percebi que esse hábito contaminou também nossas leituras em papel. Lia análises de uma página (de jornal!) inteira, mas hoje em dia quando chego à metade, perco o interesse e migro o olhar para outro artigo ou, mais provável, para uma propaganda que ocupa a página ao lado.
O próximo passo estava claro. Além de matérias curtas, a internet facilitou ainda mais a vida de nossos cérebros preguiçosos, e nos inundou com os chamados ‘infográficos’. Tudo é motivo: situação do trânsito, acompanhamento do voto do mensalão, o rebaixamento do Palmeiras ou a vida amorosa da atriz famosa.
Quem trabalha com arte gráfica deve ter adorado, afinal a oferta de trabalho deve ter explodido! Mas como não é meu caso, vejo com alguma desconfiança essa novidade. Principalmente quando entro na internet e me deparo, em letras garrafais, com a seguinte frase: “Aprenda a fazer um strip-tease profissional lendo nosso infográfico”. Deu para mim, vou atrás do meu velho radinho de pilha.
Hahaha! Muito boa, séria mas com uma certa dose de ironia diante da realidade. Acho que diz muito. Parabéns!
Concordo com o Carlos. Eu realmente sou suspeito para falar sobre internet, mas o que mais me incomoda, além da questão da leitura e dos infográficos, são as ‘manias’ ou modas que surgem com uma força tão incrível quanto a velocidade com que somem.