Uma média e um pão na chapa

Por Vanessa Henriques

Este final de semana viajei para o interior, a procura de um pouco de descanso e comida boa. Como boa paulistana, atribuía cada peculiaridade local a certo “charme interiorano” ausente na cidade grande.

Seguia pela estrada tranquila, acompanhada de um sol bonito e quente. Não havia muitos carros na pista, o que diminuiu o tempo de viagem e fez do caminho mais agradável. Charme de interior, é claro.

Mente vazia, oficina do diabo, já diriam os sábios. Começam as teorias de estrada, que por mais equivocadas que estejam, ajudam o tempo a passar mais rápido. A primeira delas veio quando avistei uma daquelas placas enormes, indicando o próximo posto de gasolina/loja de conveniência/mini-shopping/mini-fazendinha e o que mais a criatividade humana permitir à beira da estrada.

A placa era taxativa: daqui a oito minutos. Por que não indicar os quilômetros, já que o tempo está diretamente relacionado com a velocidade desenvolvida pelo veículo? Lógico, quando se brinca com as emoções humanas, não há de ser claro: imagine o desespero do motorista que precisa desesperadamente tirar água do joelho e se depara com uma placa “sanitários daqui a 30km”? Oito minutos, ele aguenta, mas 30 quilômetros fica complicado.

E não adianta forçar o velocímetro no limite permitido, você não vai chegar em oito minutos. O jeito é relaxar e, na pior das hipóteses, apelar para uma moitinha…

Superado este obstáculo, surge espaço para uma nova teoria: a dos portais. Várias cidades contam com um portal, ou ao menos um monumento que destaque o início do trecho urbano. E São Paulo? Passo a imaginar quantos portais São Paulo teria que colocar para marcar o início de seus limites. Basta dizer que a Região Metropolitana conta com 38 municípios… Agora é só fazer a conta de quantos monumentos seriam necessários!! A classe artística não teria do que reclamar, já o contribuinte poderia ficar um pouco contrariado.

Mas um episódio marcou essa viagem mais do que a conta dos portais. Ao acordar no domingo, dispensei o café da manhã do hotel para rodar um pouco à procura de um lugar charmoso para o desjejum. E bota rodar nisso.

Como boa paulistana, saí em busca da padaria mais próxima. É claro, padaria tem em toda esquina, certo? Bem… Não exatamente. Rodei um bom tempo por bairros residenciais, e nada. Alguns mercadinhos abertos, talvez vendessem pão. Mas cadê o diabo da padaria?

Próximo à Santa Casa, avistei um certo burburinho, um grande estacionamento… o que seria isso? Era o Mercado Municipal. Estacionei o carro o mais rápido possível, desviando dos flanelinhas que me aguardavam a postos (charme de cidade grande), e adentrei a grande porta farejando café. Encontrei a Casa do Pão de Queijo Mineiro, onde desfrutei uma média quentinha e uma broa de fubá dos deuses.

De volta a São Paulo, nada de portal. Mas, como privilégio daqueles que vivem do outro lado do trópico de capricórnio, não foi preciso o mínimo de esforço para encontrar uma padaria. Uma média e um pão na chapa coroaram a volta para casa.

2 thoughts on “Uma média e um pão na chapa

  1. Em seus primórdios as crônicas tinham o intuito de registrar os costumes locais, acho que essa é bem interessante vista desse aspecto, rs.

  2. Um poema ilustrativo: Se o velho oeste possui um “charme de interior”, a metrópole possui seu “charme poluidor”. Uma relação bandida, cheia de ódio e amor.

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