Por Vanessa Henriques
Um Zé já estava no bar, com cara de satisfeito, bebericando a cerveja e aguardando uma porção. Chega o outro Zé, abatido, com cara de quem não sabe o que faz. O primeiro convida o segundo a puxar uma cadeira. Ele se desmonta todo, e já puxa o copo para si.
— Que foi, Zé?
— Ah… é essa orquestra que não tem jeito. Os moleques até que se esforçam, mas não acham o tom. E eu já tô vendo eu perder meu ordenado.
— Fala assim não, maestro! Pra tudo dá-se um jeito. Eles precisam de um incentivo. Conversa com eles.
— Já conversei, mas sei não, homem. Acho que está tudo perdido (toma um longo gole de cerveja, agora no seu próprio copo).
— Posso te dar uma dica?
— Pode, mas achei que você era o homem do conserto. Você lá entende de música, Zé?
— Entendo de harmonia. Faz assim: observe cada um dos seus alunos individualmente. Isole seus ouvidos para o resto. Encontre o desafinado e o conserte.
— Isso eu posso tentar. Mas como é que você sabe disso, Zé?
— Quando eu vejo uma máquina que não funciona, sei que tem algo errado, mas não sei onde, nem como. Tiro a lataria, e começo a observar cada pecinha. Algo vai impedir o movimento, e aí eu encontro meu ganha-pão.
— Você não quer dar um pulo comigo lá no conservatório? Acho que esse seu ouvido pode ser útil.
— Eu tinha um cliente marcado agora para a tarde… mas vamos. Gostei da ideia de virar o homem do concerto, nem que seja só por um dia.