Vizinhança atacada

Por Vanessa Henriques

Poucas coisas são tão adultas e tão deprimentes quanto se animar com inauguração de supermercado. Ainda assim, geralmente é um acontecimento que pára um bairro, não importa seu tamanho (e nem venha me dizer que na metrópole isso não acontece, pois tudo não passa de uma grande paróquia colada na outra).

O assunto me veio à cabeça quando percebi que iriam abrir dois supermercados no meu bairro. Na verdade só um estava abrindo, o outro tinha fechado para mudar de marca (mas não de dono). Ficava atenta às conversas no ônibus: “vai abrir logo”, “vai ser um atacadista”, “vão ampliar”. Ficou claro que a expectativa não era só minha.

E é também o tipo de coisa que não tem como dar certo, já que a muvuca é certa e a vantagem duvidosa. Carros de som anunciam ofertas extraordinárias, mas se esquecem de mencionar as singelas filas nos caixas cobertos por bexigas.

Lembro-me da inauguração de um grande Carrefour na minha cidade. Fomos todos (sim, os cinco: pai, mãe e três filhas) conhecer o moderno hipermercado, com vidro temperado na frente, esteira rolante, uma loucura para os padrões de Diadema.

Andamos pelos corredores, achamos algumas promoções, até que fomos enfrentar a fila. Lembro-me que no carrinho tinham duas pizzas da Sadia, que seriam nossa janta. E ficamos por horas naquela fila que não andava por causa de pizzas da Sadia. Não consigo pensar num desconto que tivesse valido a aventura.

Com meu marido foi pior: ele foi na inauguração de um mercado que havia mudado de bandeira, mas que ele frequentava desde a infância. Enquanto aguardava para comer uma fatia do enorme bolo na porta de entrada (sim, teve até bolo!), algumas pessoas passaram por ele e soltaram a pérola: “nossa, agora só vai dar playboyzinho que nem ele nesse mercado” — tudo isso porque ele estava de camiseta polo. Ao menos o bolo estava gostoso.

Na última semana saiu o veredito das inaugurações do bairro: um abriria na quarta, o outro na sexta. O espírito provinciano se animou, deixei uma listinha preparada e fiquei atenta na janela do ônibus para acompanhar os primeiros movimentos.

O da quarta era daqueles minimercados, abriu sem grande alarde. Já o da sexta, foi na versão atacado (e não é que virou atacadista mesmo?). O congestionamento era inacreditável. Ouvi boatos no ônibus que não estavam cobrando as sacolinhas, mas só nos 3 primeiros dias. Luxo total.

Não tive coragem de encarar a multidão nos primeiros dias. Programei a estreia para o domingo, depois da missa. Não devo ter sido a única. As orações eram cortadas pelas buzinas ensandecidas lá fora, de motoristas não muito felizes pela confusão no trânsito local.

O padre encerrou a missa recomendando que quem tivesse de carro rezasse um terço no caminho e tivesse muita paciência. Saí com o resto dos pedestres, muitos com sacolinhas debaixo do braço. E fomos em procissão rumo à boa nova.

2 thoughts on “Vizinhança atacada

  1. como eu queria um atacadista perto de casa kkk um makro da vida…alguns produtos bem mais em conta, fora aqueles itens de casa na promoção…eu me juntaria a todos nesta contagem regressiva rsrs muito bom Vanessa!!! grande beijo!!

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