Por Vanessa Henriques
Não é a toa que é o brinquedo mais disputado nos parquinhos. Desconfio que os demais só recebam visitantes que, entediados, aguardam sua vez para usá-lo. Afinal, qual brinquedo te permite voar sentado e alcançar as nuvens com um empurrão bem forte?
A paixão por balanços me acompanha há tempos, e tem um responsável de peso. Meu avô sempre montou os melhores deles, sempre nos galhos mais altos das bonitas árvores de sua casa. Quando chegava lá, me perguntava de cantinho se eu queria ir brincar no balanço.
O mantinha protegido por um saco plástico (para não danificar o assento) encaixado entre um galho e o tronco do enorme abacateiro. Da fruta eu nunca gostei, mas da sua sombra e do seu apoio para o meu balanço, virei fã. Mas um dia o abacateiro perdeu a vez, e qual não foi a minha surpresa ao descobrir que meu avô o havia pendurado em outra árvore.
Estranhei a princípio, afinal desde pequena sou avessa a mudanças — principalmente essas que mexem com nossos melhores hábitos. Mas depois gostei. Hoje gosto de pensar que meu vô não queria que eu me acostumasse a ver o mesmo cenário enquanto voava por aí.
Hoje minhas longas pernas não balançam em qualquer lugar. Numa cadeira, num banco, é muito difícil conseguir essa façanha. Mas eis que, de forma inesperada, me deparei outro dia com um parque vazio e com muitos balanços.
Comecei pela gangorra, só para aquecer. Depois avistei meu alvo, escolhendo o melhor deles para o merecido reencontro. Bastou um empurrão para me lembrar daquela sensação boa: o vento no rosto, as pernas para o alto e o sorriso de criança incontrolável.
Li outro dia que em um pequeno povoado da Bolívia a celebração do dia dos mortos tornou-se bastante conhecida por sua peculiaridade. A cidade montanhosa ganha balanços enormes, cujos apoios ultrapassam os telhados das casas, e mulheres solteiras se balançam sem medo nessas estruturas.
Segundo a tradição, o balanço das mulheres ajuda as almas de seus parentes a encontrarem o caminho em direção ao céu, e aquelas que conseguem alcançar um cesto que se encontra no alto do balanço à frente encontrarão também o caminho do coração de seu futuro esposo.
‘Que coragem!’, dirão os mais cautelosos. Realmente, não testemunhei a celebração, mas imagino que deva ser no mínimo impressionante ver de perto esses balanços gigantes. Se a sensação que temos em balancinhos pequenos, de parques de praça, já é tão boa, imagina voar literalmente pelo céu andino?
E por que gostamos tanto de balanços? Meu palpite é que eles nos tiram da frieza do chão e nos transportam para o calor das nuvens — e lá, sim, deve ser um lugar bom para se viver.
Muito linda! Parabéns!
Ai ai, esses textos com um ar de nostalgia sempre me fazem suspirar. Adorei a leitura! Continue escrevendo =)
Fiquei muito feliz em saber que tenho ao meu lado uma pessoa sensível, que enxerga as coisas com olhos “de poeta”. Gostei muito do pouco li (vou continuar a leitura mais tarde).
Quem ficou feliz fui eu, ao ver que tenho ao meu lado uma poeta de verdade! 🙂
Um alívio para um dia conturbado.
Já sei para onde fugir em pleno horário de trabalho…
[…] vai ser?, Nó cego, Vontades, CPF na nota? e Palco, além da ótima Fiat tenebris, mas vou eleger a Fechado para balanço, é a mais bonita na minha […]
[…] são as preferidas de outros! Rs Tenho muito carinho por ‘Caiu na Rede’, ‘Retina’ e ‘Fechado para balanço’. Gosto bastante também de uma crônica sobre chinelos, uma das recordistas de comentários: […]
[…] do céu com cores, sempre com seu jogo de puxar e soltar feito com equilíbrio. Preferia voar em balanços, agarrada na segurança pífia que a cordinha deixa nas mãos. Soltar não é meu […]