Por Vanessa Henriques
Mar
— Sabe, acho isso injusto.
— O que?
— A gente na praia, e com esse horário de verão começando, não estamos perdendo uma hora qualquer. É uma hora na praia!!
— Façamos um pacto então: quando o horário voltar ao normal, a gente vem aqui para a praia recuperar nossa hora de direito.
— Acho bom! Se não fizermos isso, a hora vai ficar aqui presa, na praia… E a gente vai ficar sempre adiantado, na frente de todo mundo.
Vagabundo
Sábado. Véspera de virada do horário de verão. Fila interminável no caixa do mercado que se diz rápido. Dois homens conversam sobre o tempo, as eleições, os planos do final de semana, até que chegam ao assunto:
— Tem que adiantar o relógio hoje, né?
— Pois é… Mas eu não gosto muito desse horário de verão não, sabe?
— Ah é? Por que não?
— Ah… A gente vai dormir tarde, acorda mais cedo, fica na gandaia… Isso é horário de vagabundo, isso sim!
Ponteiros
Ana acordava todos os dias às 5 horas da manhã para tomar seu remédio (tinha que ser em jejum). Invariavelmente, se levantava para ir ao banheiro. Nesse momento, se deliciava com a quantidade de passarinhos que dominavam, sem concorrência, o silêncio da quase-manhã.
Mas veio o horário de verão. Os passarinhos, então, se desorientaram: ao invés das 5 horas, cantavam às 6 horas. Mas já havia muita gente na rua, muito barulho, e a manhã não era mais deles (mas ainda estava escuro!).
Depois de uma semana de piados desencontrados, foram se adaptando. Na sexta de manhã, Ana despertou sozinha. Passarinhos. E no horário certo. Ana, no entanto, estava no horário errado: acordou com os passarinhos, e não voltou a dormir. Os passarinhos piavam em seu sono, que já não era dos mais pesados. Sonharia com passarinhos até o próximo Carnaval.