Por Vanessa Henriques
Inútil tentar justificar uma morte. Não traz o morto de volta à mansão dos vivos.
A morte é egoísta, e leva com ela toda a explicação.
Não me deixe carta de despedida: não há nada que eu deteste mais do que mensagens do Além. As palavras devem ser ditas quando ainda pulsam. Essas letras jogadas nesse papel frio não tem sua voz, sua entonação, e portanto não são suas palavras. Estariam condenadas a rondarem feito alma penada no purgatório da minha cabeça.
Prefiro não saber o que aconteceu. Porque eu não vou saber mesmo o que aconteceu. Vou receber a notícia num dia sujo, desses que mancham a pele e abrem um buraco no tórax, e esses dias vão se repetir ano a ano quando eu me der conta que é o aniversário da sua morte.
Tem coisa pior do que isso? Comemorar o aniversário da não-vida? Só mesmo um moribundo espírito de porco para dizer uma coisa dessas. Não se preocupe, não vou comemorar o aniversário da sua morte.
Mas serei obrigado a comemorar o aniversário da sua vida: eu demorei muito para decorar o dia para esquecer assim, de uma hora para outra. Vou lembrar dos seus monólogos vivos em meu pensamento.