Por Vanessa Henriques
Já faz uns meses que comecei a trabalhar na Folha (aquela, de S.Paulo), o que rende boas histórias, mas por algum motivo ainda não contadas por aqui desde que a canoa virou. Mas o assunto aqui não é esse, ao menos não por ora.
A questão é que no mesmo prédio onde trabalho passaram e passam pessoas que eu sempre li e admirei. Ou seja, há um peso muito grande naquelas paredes e andares, e a cada viagem no elevador pode ser uma nova chance de tietagem.
Eu, no entanto, não sou assim tão sortuda, e meio que desisti de topar com alguém. Mas há uma pessoa em particular com quem eu gostaria muito de encontrar — mesmo tendo a absoluta certeza de que, se isso acontecesse (e não vai acontecer), eu ficaria muda e travada no meu canto.
É o Antonio, aquele, filho do Mario. Lembrei dessa história do elevador essa semana, e foi por causa do pai. Sempre gostei dos textos do filho, e me sentia em dívida com o pai. Aliás a imagem que faço dele é a criada por Antonio: o jeito escrachado de quem fala para o filho que “chupar pinto é uma coisa muito normal“.
Comprei meio de farra um livro velho dele, editado pelo jornal concorrente, num sebo do centro. Vim lendo no metrô essa pérola dos anos 90. A contracapa o define como cronista de costume, o que é um fato, e como os costumes mudaram, pensei. Basta dizer que há um texto com o título “Você já assediou alguém hoje?”.
E lá no meio, entre Baltazar e Garrincha, estava o filho:
“(Sou obrigado a interromper essa crônica — é meio-dia da segunda-feira — para informar — orgulhosamente — que o meu filho entrou na USP. Filosofia. Todo pai é mesmo igual. Baba sobre a própria criação. Mas vamos voltar ao que interessa.)”.
Logo veio a cena na minha cabeça. Eu entrando no elevador da Folha, meio desgrenhada, com o livro na mão. Antonio entrando no primeiro andar, para o enfado de todos, inclusive o meu. Eu gastando uns três andares para constatar que era ele mesmo. Apresso uma abordagem:
— Oi, Antonio né?
(ele com cara de incógnita, porém simpático)
— É que… eu gosto muito do que você escreve, acompanho há anos as suas crônicas, amei o seu último livro. É realmente um prazer te conhecer. (note como sou articulada em sonho)
(ele meio tímido, meio lisonjeado)
— Viu, você se incomodaria de me dar um autógrafo?
(ele mais tímido, um pouco mais resistente, os outros ocupantes esperando a resposta)
— Pode ser aqui, no livro do seu pai.
(ele abre um sorriso, rabisca com vontade a primeira folha, elogia a minha abordagem, nos abraçamos, ele diz que vai ler meu blog)
(o diretor: cortaaaa)
Lógico que nada disso aconteceu, mas por via das dúvidas o livro continua na mochila. Vai que ele atrasa uma coluna, não recebe um contracheque, ou simplesmente vai visitar algum amigo na velha redação? Enquanto o filho não aparece, o pai me faz companhia.