Por Vanessa Henriques
“Você está pronto para de reencontrar consigo mesma?” é a pergunta que tenho feito nos últimos tempos.
Ainda que em condições imperfeitas, muitos de nós já reencontramos familiares e amigos depois de tanto tempo de isolamento — matar a saudade é outra história. Voltamos à rotina, ou nos acostumamos a um cotidiano diferente a ponto de já nem notar a diferença.
Só que enquanto nos adaptamos pela milionésima vez, impossível não olhar o espelho. Ou talvez seja mais fácil nem olhar.
Enquanto tudo mudava ao redor, muitos (eu estou neste grupo) se agarravam ao pouco de conhecido e estável que restava. Outros (eu queria estar nesse grupo) se deixaram levar pela correnteza, na certeza (esperança?) de alcançar a terra firme.
Ninguém voltou igual.

Ao invés de pensar no “quanto tudo vai voltar ao normal?”, comecei a pesar os efeitos do que aconteceu e como, realisticamente, será nossa vida daqui pra frente. Dá muito medo, mas alguém sabia o que aconteceria dentro da muralha da “vida normal”?
Ao mesmo tempo em que me sinto pronta para abandonar o que chamo de ranço da pandemia — comprando novas roupas, arrumando os armários, anunciando novos hábitos — tenho reencontrado cacoetes, aflições, atitudes que havia esquecido que carregava em mim (com o acréscimo do que dois anos de pandemia podem ter feito com eles).
É tempo de faxina ou de introspecção? Depende do freguês, é claro, e provavelmente precisamos dos dois, como sempre.
Com a gaiola semiaberta, vemos o horizonte que nos atrai, só que o buraco ainda é muito estreito. Só conhecendo nosso tamanho atual é que poderemos passar.