Santa Paciência

Por Vanessa Henriques

Vida de santo não é fácil. São Longuinho, por exemplo, anda o dia inteiro à procura de pertences alheios. São Pedro, além de controlar o portal, controla a temperatura e o volume de chuvas, sol, ventos e trovões. E ainda tem que ouvir reclamação quando chove demais ou de menos!

Mas tem um santo que trabalha mais do que todos: esse é São Valentim, o santo dos namorados. Haja pique pra cuidar de pombinhos desavisados por toda a face da terra! Isso porque a maioria dos casais, especialmente no começo do romance, anda por aí como se não tivesse perigo neste vasto mundo de meu Deus.

Caso clássico: namorado deixa namorada na porta de casa após ir ao cinema. Entre beijos melados e declarações melosas, passam horas dentro do carro — com o ar condicionado ligado e em uma rua escura. Lá vai São Valentim evitar que a bateria acabe e que um ladrão sortudo encontre esses dois dando sopa.

Aos finais de semana, o trabalho é dobrado. É um tal de segurar os pais mais um tiquinho no trânsito para que não cheguem em casa na hora ‘h’, de tirar a vizinha fofoqueira da janela, de evitar que o cachorro encontre um pacote de camisinha que foi parar embaixo do sofá…

Pobre São Valentim, que precisa olhar por estes irresponsáveis. Santo Antônio sim, é que é esperto: ajuda a encontrar casamento e pronto! Não precisa ficar vigiando casais apaixonados, que não olham para os dois lados na hora de atravessar a rua, afinal estão muito ocupados trocando beijinhos.

Corre à boca miúda que São Valentim nunca comparece aos eventos celestiais, afinal suas funções demandam muito dele à noite. Ficou com fama de antipático, pois nunca passa mais de dois minutinhos conversando e já sai correndo designar um querubim para impedir que uma dupla tenha suas carteiras furtadas enquanto trocam juras de amor no metrô.

Mas ele continua lá, firme e forte, fazendo seu trabalho. E cá pra nós, é muito bom aproveitar esses momentos de cabeça nas nuvens que só o amor — e um santo! — são capazes de nos proporcionar.

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